Data da publicação: sábado, 9 de março de 2013
Postado por Aloisio
Quando o placar mente - Parte 2
Tricolores de sangue grená, a bruxa está definitivamente solta. Uma rápida pesquisa em vários blogs de – supostos – tricolores acerca do nosso último compromisso na principal competição continental do Brasil são de desesperar o mais otimista torcedor do Fluminense. Desde a exagerada derrota para o Grêmio, o Fluminense vem sendo sistematicamente bombardeado pela Flapress. Não obstante, também temos que nos defender do “fogo amigo”, ou seja, do tricolores que compram a idéia que a mídia mulambenta tenta reproduzir a todo custo: de que não temos a mínima condição de vencer a Copa Libertadores. Porque o Deco está bichado. Porque o Cavallieri não faz mais milagres. Porque a defesa – que já foi a menos vazada em algumas competições nos últimos anos – é uma porcaria. Porque Wellington Nem está mascarado. Porque Thiago Neves é burocrático. Porque os laterais são horrorosos. Porque Jean voltou apagado da Seleção. Porque o Fred perdeu o faro de gol...
É insuportável ler crônicas corneteiras sobre o Fluminense de hoje. Elas cansam, enojam e demonstram uma realidade que simplesmente não existe. Repitam comigo, pessoas: atualmente, NÃO TOMAMOS VAREIO DE NINGUÉM. Os últimos vareios de bola que o Fluminense tomou foram em 2009, em boa parte do Campeonato Brasileiro (tomamos vareios de Goiás e Coritiba em pleno Maracanã, de envergonhar), e duas goleadas fora de casa totalmente anormais para América-MG e Bahia em 2011. E só! Estamos passando por uma má fase, mas a torcida infelizmente mostra que não merece ganhar a Libertadores. Em vez de terem enchido o estádio contra o campeão chileno, preferem cornetar o fim-de-semana de folga concedido aos jogadores. Com toda a sinceridade, não vi nada de mais nisso. Só teremos jogo domingo que vem, e pelo Carioca ainda por cima. Eles precisam treinar, é claro, mas descanso e qualidade de vida também estão dentro do planejamento!
Eu não estou defendendo exacerbadamente o grupo, o Abel, o Peter, o Rodrigo Caetano, o Celso Barros, ninguém. Não concordo totalmente com o Abel, mas discutir sobre a vocação que o homem tem para as conquistas é ser leviano. Temos condições, sim, de conquistar a Libertadores, mas torcedor tricolor que não vai ao estádio NÃO PODE COBRAR caso sejamos eliminados. Eu posso, pois vou a todos os jogos em casa, apóio do início ao fim, me associei ao clube e defendo-o com unhas e dentes. As três cores que traduzem tradição são minha segunda pele. Chamar o time de “time sem vergonha” porque não conseguiu meter a bola pra dentro por azar é o cúmulo do absurdo. A maioria da torcida parece ter memória absurdamente curta. Há catorze anos, provavelmente nenhum tricolor sonharia em estarmos vivendo momentos como os de hoje. Em 2013, passamos por uma das épocas mais gloriosas do nosso clube, senão a mais gloriosa. Há de se saber reconhecer o bom trabalho que vem sendo feito e dar um voto de confiança, SIM. Se não der certo, que outro treinador dê continuidade ao trabalho, mas o mínimo que ele merece é a nossa confiança. Sejamos coerentes!
O jogo, para aqueles que o analisaram friamente, só nos trouxe a constatação óbvia: o Fluminense está em franca evolução. Esta foi a melhor partida do Flu em 2013. Contra o Huachipato, no Chile, jogou bem melhor que o adversário, sobretudo no primeiro tempo. Contra o Vasco, dominou e pressionou o tempo todo e perdeu nas falhas defensivas no fim, somadas à precisão do adversário. E contra o mesmo Huachipato, agora no Rio, mandou no jogo em 90% do tempo. O primeiro tempo, então, foi um massacre. Até os trinta minutos, já havíamos conseguido sete finalizações com perigo para o gol de Veloso. Todavia, a bola teimava em não entrar, mesmo com as boas jogadas pelas laterais e triangulações que o time desenvolvia. Assim o foi até que o goleiro Veloso se enrolou numa jogada que parecia fácil. Em vez de chutar a bola que vinha ao seu encontro, tentou dar um lençol em Deco e, logo após, furou. Com isso, a bola ficou pingando, e o Fluminense tentou retomá-la. Deco faria o gol caso não sofresse pênalti. O juiz assinalou bem o lance e Fred foi para a bola. Nosso artilheiro, que não perde pênaltis há um bom tempo, não desperdiçou, e o Flu parecia abrir caminho para uma goleada, tal o volume de jogo apresentado.
Mas, como sabemos por longa experiência – vide 2008 – o futebol não é justo. O Fluminense diminuiu um pouco o ritmo após o gol, tentando entrar com mais calma na defesa do Huachipato. Algumas chances foram criadas, mas veio o intervalo. E com ele, uma onda de azar sem precedentes. Quando voltamos para o segundo tempo, o time chileno havia modificado seu esquema de jogo, para voltar ao 4-4-2. Não sei se Abel viu isso, mas não houve modificações aparentes. Continuamos pressionando, e perdemos mais e mais gols. No fim do jogo, tínhamos feito 20 finalizações com real perigo. Veloso, a partir de sua entrada em campo para a segunda etapa, se tornou o nome do jogo. A lambança feita no pênalti cometido foi inteiramente compensada com sua atuação de gala. Salvou pelo menos dois gols certos e evitou várias jogadas de perigo com intervenções precisas e seguras. Em muitas jogadas, o bandeira que acompanhava os ataques do Fluminense assinalava os impedimentos sem hesitar. Em alguns deles, cheguei a duvidar de sua existência ou não. Já para o Huachipato, o bandeira que acompanhava as descidas da equipe chilena, no outro lado do campo, parecia com o braço engessado. Em várias oportunidades nas quais havia impedimento claro (e eu estava em boa posição no estádio para vê-los) ele sequer duvidava da legalidade do lance. Isso proporcionava uma válvula de escape para o visitante, que aproveitou bem as costas de nossos laterais, que avançavam demais.
O inacreditável gol de empate dos caras veio numa jogada em que o árbitro erradamente marcou sola do Carlinhos (quem deu a sola foi o jogador da equipe chilena), dando tiro livre indireto. No desenrolar do lance, no bate-e-rebate, após bola mal afastada por Gum e drible ridículo sofrido por Edinho, o adversário empatou. E aí, fomos pro abafa. Wagner, que havia entrado no lugar de Deco há pouco, começou a achar espaços e a tentar penetrações, mas sem sucesso. Fred recebia muitas bolas, mas preferia tentar o pivô na maioria delas e errava muitos passes. Rhayner entrou no lugar de Bruno, e Abel deslocou o Jean para a direita. Com o volante já cansado e o bandeira ignorando impedimentos, chegamos a sofrer um contra-ataque que daria a chance do gol da vitória para o Huachipato, mas Cavallieri fez ótima defesa e garantiu o empate. Todas as chances que tivemos foram neutralizadas pela defesa dos caras ou pelo goleiro Veloso, que vai com certeza gravar essa noite para a eternidade.
Então, meus amigos, se fosse sete ou oito a ZERO, não seria nada de mais, e o que estaríamos vendo na mídia corneteira seria uma exaltação sem precedentes ao escrete tricolor. Mas, como os gols não vieram, a despeito da ótima atuação, o time é “sem vergonha”. Tá certo. Futebol é resultado. Santa ignorância. Vamos ver no final do semestre quem tem razão. Bola para ganhar nós temos. Precisamos ter consciência de que outros também têm. Mas, principalmente, é hora de abandonar a síndrome de vira-latas que aflige a torcida. Sempre acham que somos uma porcaria, não valorizam atuações, tampouco resultados, e acham que dá pra ganhar sempre. Desculpem, não dá! Futebol vive de zebras como as de quarta-feira, como a eliminação para o Boavista naquela semifinal de turno de Carioca, e vários outros resultados difíceis de digerir, não só ocorridos com o Flu, mas também com os outros, com os rivais! Não estamos imunes a isso! Se o Grêmio não esteve imune à derrota em casa para esse mesmo time, por que nós, que não ganhamos ainda do Grêmio, estaríamos? Valorizemos os adversários quando eles merecerem. Parabéns ao Huachipato pelo ponto conquistado na atuação soberba de seu goleiro. Mereceram. Ao Flu, resta trabalhar. Temos um mês para isso. Temos time para vencer o Grêmio lá no sul, mas até mesmo o empate será um bom resultado. Mas só se houver empenho. Só se suarem sangue, como foi nessa última partida, e não desistir até o apito final. Se não houver isso, a tradição do Imortal vai nos engolir. E lamber os beiços.
Acompanhei pouco a partida entre Fluminense e Botafogo, pela Taça Guanabara sub-20, mas o que vi me agradou bastante. Ainda que tenhamos perdido um pênalti no segundo tempo, quando o jogo se arrastava sem alterações no placar, encontramos força ofensiva para marcar o gol da vitória pouco depois, após cobrança de escanteio. Que essa seja uma demonstração da força que o Fluminense tem em sua base, para os incrédulos, que acham que Xerém é uma porcaria. Menos de dois meses após os meninos do Flu vencerem o Mundial Sub-18, somos campeões no Sub-20 invictos. Já garantidos na final, os moleques de Xerém estão de parabéns pela conquista. Vence o Fluminense!
● Verde da Esperança
- Bem que o Caracas podia arrumar um empate com o Grêmio, pra dar graça ao grupo, né?
- O time está evoluindo bem, mas há espaço para mudanças. O Abel precisa avaliar como as peças da defesa principalmente vão se comportar durante esse período sem jogos da Libertadores.
- Ao contrário de todos, e corroborando com o PC Filho, espero que o Flu se classifique em segundo do grupo. Decidir em casa raramente nos trouxe sorte.
- O segundo turno do Carioca vai começar. Hora de testar pra valer o Monzón, Felipe e Wellington Silva.
- O Flu poderia contratar algum zagueiro que esteja se destacando por aí. Eu daria uma olhada no Campeonato Paulista.
● Branco da Paz
- A diretoria deu uma tremenda bola dentro com a cortesia aos sócios para os jogos contra o Huachipato e contra o Caracas. Já me aproveitei desse último. Obrigado!
- Com sete pontos, nossa chance de classificação é mais de 70%. Ainda que percamos do Grêmio, só vamos depender de nós mesmos ao encarar o Caracas em casa. Duvido que a equipe venezuelana chegue a vencer o time gaúcho.
- A torcida precisa se tranqüilizar. Eu também estava fulo da vida com o resultado injusto, mas os caras tentaram. De todo modo, como já disse algumas vezes, eu prefiro um futebol mais pragmático, mas campeão.
- E a Conmebol arregou pro Corinthians e deixou a torcida entrar nos jogos em casa... e até hoje o Fluminense não conseguiu vetar um árbitro sequer em seus jogos na competição... saudades, Baldassi.
● Grená do Vigor
- Time sem vergonha? Eles foram a campo e deram seu máximo. Torcida sem vergonha? Mesmo com valores mais baixos e entrada DE GRAÇA para os sócios, a torcida não chegou nem a 20.000. E aí, quem tem razão?
- Hora de treinar com mais afinco, maestro. Estamos com saudades dos passes mágicos.
- Bruno, o que você tem contra a linha-de-fundo? Bate um papo com o Carlinhos, eles se gostam.
- Valencia, Felipe, Elivélton e Wellington Silva merecem mais chances nesse time, Abel.
- Corneteiros, se não ganharmos a Libertadores, metade da culpa será de vocês. E tenho dito. Precisamos de alto astral, confiança e apoio! Lotem o estádio, depois reclamem.
Vamos em busca da América! Acredita, Fluzão!
Sobre o autor: Aloisio Soares Senra é professor de Inglês do Município do Rio de Janeiro desde 2011, e torcedor do Fluminense desde sempre. Casado, é carioca da gema, escritor, jogador de RPG, entre outras atividades intelectuais.
Esta coluna foi publicada originalmente no dia 09/03/2013, no blog do Projeto Arena
http://arenafluminense.blogspot.com.br/2013/03/quando-o-placar-mente-parte-2-tradicao.html
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