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Data da publicação: sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Postado por Aqipossa Informativo

A Água da Torneira


Retirado de http://www.portalnetuno.kit.net/aguatorneira.htm

Para abastecer seus aquários, principalmente nas grandes cidades, a maior parte dos aquaristas do mundo inteiro utilizam a única água disponível: a das torneiras. São poucos os que tem a facilidade de obter água pura de nascentes ou de mananciais ainda não poluídos, como os das cidades do interior. E no Brasil, esta situação não é diferente.

Mas, afinal, como é essa tal "água de torneira"? O que acontece com ela antes de chegar até nós? Que tipo de aditivos ele recebe no tratamento? Que importância isso tem para nós, aquaristas?

O tratamento dado à água que recebemos em nossas residências varia de uma cidade para outra, quer pelo tamanho da população, quer pela própria origem da água a ser tratada. Porém, alguns processos são comuns a todas as estações de tratamento.

O procedimento que passamos a relatar é adotado há vários anos com sucesso em Colatina/ES, em uma de suas estações de tratamento com capacidade para fornecimento de 11 milhões de litros/dia de água tratada, administrada pelo SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto. Ressaltamos aqui, que a água tratada da cidade de Colatina é considerada modelo no estado do Espírito Santo, e classificada por órgãos de saúde pública como uma das melhores do Brasil.

A primeira fase é a chamada captação, ou seja a obtenção da água bruta de um manancial (rio, lagoa ou poço artesiano), retirada em um ponto onde a contaminação seja a menor possível. No caso de um rio, capta-se água em ponto anterior à cidade, por motivos óbvios.

A água chega bombeada à estação de tratamento através de uma tubulação metálica de grande diâmetro, sendo que logo na chegada passa por um sistema de medição, onde se obtém dados referentes à vazão em l/seg, e à turbidez, ou seja, a quantidade de material sólido em suspensão na água bruta. No "teste do jarro", como é conhecido, determina-se a concentração do produto que agirá como clarificador, no caso, o sulfato de alumínio - Al2(SO4)3 - cuja solução é adicionada à água bruta logo após o ponto de medição, sendo este o local de maior velocidade e agitação, propiciando melhor mistura. A concentração em água bruta considerada normal gira em torno dos 16 mg/l, sendo que em época de enchentes, quando o aspecto da água barrenta é o tradicional laranja avermelhado, chega-se a aplicar severos 60 mg/l! É importante registrar que o sulfato de alumínio baixa o pH da água, que na chegada gira em torno dos 6.9 ~ 7.0, caindo para 6.3 ou até mesmo 6.0, após a adição do clarificador, dependendo da concentração usada.

Encontramos, nas lojas de aquários, produtos derivados do sulfato de alumínio, vendidos como "clarificadores" ou "cristalizadores", em concentrações mais baixas que as usadas nas estações de tratamento, para eliminar o excesso de sujeira em suspensão na água do aquário.

Após misturada à água, a solução de sulfato de alumínio provoca a formação de pequenos flocos gelatinosos de alguns milímetros, que são responsáveis pela retenção dos sólidos em suspensão. É o processo conhecido como floculação. A mistura percorre, então, alguns metros até chegar aos chamados tanques de decantação, enormes piscinas ao ar livre, com algumas dezenas de metros de comprimento, onde a água atravessa de uma ponta à outra em movimento suave, sem turbulência, bem lentamente para que os flocos, mais pesados, desçam até o fundo.

Após a decantação, a água entra no processo final de clarificação: a filtração, livrando-se de possíveis flocos que teriam escapado à decantação, ou mesmo alguma sujeira não colhida na floculação. O processo utilizado é o de se fazer passar a água através de seixos e de uma camada de areia, que tem de 57cm a 60 cm de espessura, no chamado filtro "convencional" por gravidade, ou seja, de cima para baixo, ou ainda, através de uma camada que, só de areia, tem 2 metros, no "clarificador de pressão", de baixo para cima. Durante a filtração, a água já fica em local coberto, livre do vento, poeira, insetos ou quaisquer outras formas de contaminação.

Depois disso, a água entra, então na última fase e, talvez, a mais importante e que requer maior precisão de todo o tratamento: o reservatório de contato, um tanque lacrado, sem comunicação com o ar atmosférico, acessível somente para manutenção, em que a água está em constante circulação, sendo submetida a testes de qualidade de hora em hora, e onde ela recebe os três aditivos básicos que influenciarão decisivamente na sua qualidade final: cloro, flúor e cal hidratada.

O cloro é o primeiro dos três a ser adicionado. Ao contrário do que muitos imaginam, não é o mesmo produto usado nas piscinas, onde o "cloro" é, na verdade, uma mistura de dois sais em pó: hipoclorito de cálcio e de sódio. Apesar de terem a mesma finalidade - bactericida - o produto usado no tratamento da água potável é o gás cloro - Cl2 - que é acidificante, de cor amarela, de odor sufocante e que causa mal-estar em ambientes fechados, que é injetado e dissolvido na água tratada por um aparelho denominado clorador, o qual permite regular a dosagem do gás manualmente. Essa dosagem é calculada da seguinte forma: sendo um gás injetado num líquido sob pressão, o cloro tende a se perder no caminho até o consumidor final - residência, estabelecimento comercial, escola, etc. - sendo que a água deverá chegar até ele com uma concentração mínima, denominada "residual de cloro". Semanalmente, são feitos testes desses valores residuais nas chamadas "pontas de rede", locais mais distantes abastecidos pela estação de tratamento, sendo possível assim controlar a dosagem com precisão razoável. O valor médio aplicado no tratamento, em condições ditas "normais", é de 0.6 mg/l, sendo a variação indicada para água destinada ao consumo humano, de 0.5 mg/l até 0.9 mg/l. Vale registrar que o poder bactericida do cloro é ainda maior em meio ácido, onde se conclui que é dentro do reservatório de contato que sua eficácia como anti-séptico é mais notada. Ele atua, ainda, como oxidante de pequenas partículas que porventura escapem da filtragem.

A seguir, é adicionado o flúor, na forma de solução de flúor-silicato de sódio - Na2SiF6 - tendo como função principal a de auxiliar no combate à cárie dentária. É também de natureza ácida, sendo que sua dosagem varia conforme a temperatura da água: quanto mais quente, menor a concentração. Em águas na faixa situada entre 26.4 ºC a 32.5 ºC - a grande maioria das cidades brasileiras - são aplicados 0.7 mg/l.

E por fim, a água agora considerada tecnicamente limpa e asséptica, porém, extremamente ácida pela adição dos produtos anteriormente descritos, recebe o último aditivo, o "leite de cal" - uma solução de cal hidratada - que tem como principal função a de elevar o pH ao valor de 8.3, que é chamado "pH de saturação" ou "pH final". Isto, porque a tubulação e as partes metálicas da rede de distribuição ficam protegidas da corrosão provocada pela água ácida e pelo efeito oxidante do cloro. Apesar de serem permitidos valores de pH final entre 6.5 e 9.5, é tecnicamente aconselhável o uso em torno dos 8.3, para se evitar depósitos de ferrugem e de outros óxidos prejudiciais à saúde nas caixas d'água residenciais.

Pronta e acabada, a água é levada aos reservatórios de distribuição e encaminhada pela rede ao seu destino final, tornando-se, então a nossa velha conhecida "água de torneira".

Observando-se atentamente o processo de tratamento, concluímos que:

1 - Devemos conhecer com exatidão o valor do pH da água que recebemos em casa, antes de qualquer outra coisa: se estamos pretendendo, por exemplo, uma troca parcial em virtude de uma acidificação causada por "água velha", com água ácida na torneira, as coisas poderão ficar ainda piores. Fique atento!

2 - Ao usar clarificador à base de sulfato de alumínio na água de seu aquário, tome cuidado com a queda repentina no pH: não exagere na dose; caso contrário, peixes mais sensíveis poderão "sucumbir"!

3 - A quantidade de cloro na água do reservatório de sua residência é bem menor do que na da torneira direta da rede. Assim, é possível livrar do cloro a água de reposição do aquário sem o uso de aditivos químicos. Sendo a concentração residual medida na ponta da rede de distribuição e não na caixa d'água de sua casa ou no reservatório de seu condomínio, é possível que, após 24 ou 48 horas, a água (retirada do reservatório e não da torneira direta) armazenada em separado já não tenha (ou tenha pouquíssimo) cloro em sua composição. É possível, ainda, dar uma "mãozinha" à natureza, separando a água de reposição em um recipiente próprio e deixando-a por algum tempo (uma noite, por exemplo) sob a ação de uma pedra porosa ligada a um compressor. É mais saudável do que ficar abarrotando seu aquário de aditivos, como os anti-cloro, anti-"isto", anti-"aquilo", etc.

4 - Sendo a cal, derivado do carbonato de cálcio, um produto alcalinizante e ao mesmo tempo "endurecedor" da água, convém, com um valor muito alto encontrado para o pH, fazer também um teste de dureza de carbonatos (veja a matéria "As Plantas Aquáticas e a Qualidade da Água", nesta edição), para ter certeza de que ela não vai causar danos ao equilíbrio biológico de nosso viveiro.

5 - Em localidades onde a água de torneira chega ácida, devemos ter o cuidado com a presença em demasia do óxido de ferro resultante da corrosão da tubulação metálica que, apesar de não ser muitas vezes por nós percebida, faz mal à saúde de peixes mais sensíveis (e de algumas pessoas também!).

Se você reside em cidade de interior, ou localidade de pequeno porte onde haja facilidade de visitar uma estação de tratamento, não perca esta oportunidade. Faça sua visita, procure conhecer em detalhes o método usado, e anote os valores, comparando-os com os apresentados nesta matéria. Ser curioso é demonstrar vontade de aprender, é ser inteligente!

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