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Data da publicação: terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Postado por Mural da Colina por Rodrigo Omena

São Januário é nosso.

Enfim se foi 2012 e com ele as decepções de um ano que não aconteceu para o Vasco.
Mas ainda temos aprendizados para o ano novo que começou.

Entre muitos erros e poucos acertos , é unanimidade que São Januário é nosso e de mais ninguém.

Já escrevi aqui que em 2009 poderíamos ter vencido a Copa do Brasil se não tivéssemos saído de São Januário no primeiro jogo contra o Corinthians. Em 2011 ficamos em casa e fomos campeões.

Mas por que São Januário não deve ser vendido , emprestado ou alugado para ninguém ?

Em 1923 vencemos o campeonato da cidade do Rio de Janeiro com um time formado por negros e pobres incomodando aos grande clubes da elite. Como um clube vindo da 2ª divisão e sem expressão poderia ser tão ousado ??!!

“ As equipes das elites como Fluminense , Flamengo , América e Botafogo iniciavam seus descontentamentos com relação a esse novo cenário social no futebol , tentando de alguma forma impedir a ascensão vascaína.” (MATOS, pág. 63 )

Após aquela conquista , em 1924 , os grandes clubes desligam-se da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundam a Associação Metropolitana de Esportes Athléticos (AMEA).

“ Com esta nova associação , diversas leis com caráter restritivo foram postas em prática com o intuito de travar a evolução de times como o Vasco da Gama e , consequentemente , a inclusão de negros e pobres. Entre diversas leis segregadoras , podemos destacar: os clubes deveriam possuir estádio próprio , capaz de acolher um número razoável de torcedores , para participarem dos campeonatos.” (MATOS, pág. 64).

Inicialmente , o Vasco se associaria a nova entidade , mas ao sair o estatuto dela o clube percebe não ser bem-vindo àquela pequena oligarquia formada também pelo Bangu, além dos quatro grandes. O parágrafo único do artigo 5 já trazia um problema ao Vasco , pois nele era dito claramente que a praça de esportes do clube filiado à Liga não poderia ser arrendada de qualquer outra associação desportiva , vinculada ou não à Amea. Deveria partir o Vasco para a compra de estádio da Rua Moraes e Silva , alugado até o ano de 1927 , ou de algum outro que desejasse e pô-lo em condições de absorver sua torcida a mais popular do Rio de Janeiro à época.” (FRIAS, pág. 46)

O problema para o Vasco estava posto , era sabido que a torcida cruzmaltina era a maior da cidade e como acomodá-la ?

Foi uma maneira clara de exclusão do Vasco.

Mas o que enfrentou o Vasco sem estádio para jogar ?

“ Ninguém ligou a importância à ida do Vasco para a primeira divisão. Que é que podia fazer um clube da segunda divisão contra um América , campeão do Centenário, contra um Flamengo , bicampeão , contra um Fluminense , tricampeão ?” (MARIO FILHO, pág. 121)

“ O Vasco não era outra coisa. Um clube com um campinho na Rua Morais e Silva , que não servia nem para os jogos da primeira divisão.” idem.

Além de pagar aluguel nos estádios em que jogava , enfrentávamos todos os tipos de humilhações.

“ E , depois , havia a história do campo, o Vasco tendo de jogar no estádio do Fluminense. O Nelson Conceição ( goleiro do Vasco , campeão em 1923) vinha na frente , era o primeiro a receber uma vaia. Quem não era Vasco enfiava o dedo na boca e toma assobio. Como se não bastasse , ficava gente atrás do gol passando descompostura em Nelson Conceição.

Com o Vasco, a torcida dos outros clubes não tinha contemplação. Quando o jogo demorava a começar , um engraçadinho vinha com um ‘ está na hora , bota o bacalhau pra fora’. Atirava-se a culpa em cima do Vasco. Antes do Vasco , a torcida era toda respeito.

A prova estava em 1924 , o Vasco fora da Amea. Um jogador enterrando time , a torcida pedindo a Deus que ele saísse de campo, não querendo , porém , ofendê-lo de jeito nenhum. Havia uma maneira delicada de avisar o clube que o jogador precisava ser substituído , para evitar a derrota , de pedir para que o jogador cedesse lugar ao outro. Era o ‘olha o telefone’. O jogador saía e nada de insultos.

Com o Vasco na Amea porém, o torcedor não podia dar-se a esse luxo de amabilidades. Se um jogador estava jogando mal tinha de sair , e logo , o mais depressa possível , senão o Vasco acabava ganhando o jogo.

Os jogadores começaram a ouvir gritos, descomposturas , o torcedor se justificava dizendo que pagara a entrada. Pagara e tinha o direito de fazer o que bem entendesse , principalmente com um Nelson Conceição , um mulato com cara de macaco, metido a quíper ( goleiro ) argentino, com um boné na cabeça. Boné era para branco.

Nelson Conceição ia defender uma bola , seu isso , seu aquilo , às vezes perdia a calma , a bola entrava. Com a torcida do Fluminense atrás do gol , azucrinando-lhe os ouvidos, que é que podia fazer?

Os sócios do Fluminense mais dispostos largavam as cadeiras da bancada social , preferiam ficar debaixo do sol , na arquibancada , atrás do gol de Nelson Conceição. Assim tinham mais liberdade de descompor o preto. Acabado o half-time ( primeiro-tempo) mudavam de gol. Quando Nelson voltava , achando que estava livre deles , eles o deseludiam logo. O estádio era do Fluminense , o sócio do Fluminense podia mudar de lugar, assistir ao jogo de um lado no primeiro e do outro no segundo.

O Vasco fez queixa , o Fluminense respondeu que não podia tomar nenhuma providência contra os sócios que iam para a arquibancada , se é que iam. E lá teve o Vasco de mudar de campo.

Deixou de jogar no Fluminense , foi jogar no Flamengo. A situação não melhorou , piorou muito. O torcedor do Flamengo tinha ainda mais raiva do Vasco que o do Fluminense. O torcedor , o jogador , tudo. O jogador , então , achava até que se sujava jogando contra o Vasco.

E foi nas mãos da torcida do Flamengo que o Vasco caiu. A arquibancada de Paissandu era dos sócios do Flamengo , dos torcedores. Os sócios , os torcedores do Flamengo, gostavam de assistir aos jogos , principalmente os jogos contra o Vasco , atrás do gol. O gol quase colado à grade, Nelson Conceição ouvindo desaforos durante oitenta minutos.

E os torcedores do Flamengo atiravam pedrinhas nas costas de Nelson Conceição. Quando a pedrinha batia nas costas de Nelson Conceição na hora que ele ia fazer uma defesa , era quase gol certo.

O Vasco mudou de campo outra vez , foi para o campo do Andaraí. O Andaraí , clube pequeno , não queria perder o aluguel que o ajudava a viver. Assim em dia de jogo do Vasco , quem mandava no campo era o português. Somente torcedor da Cruz de Malta no peito é que podia ir para trás do gol de Nelson Conceição.

O Vasco , porém , perdera pontos em Álvaro Chaves , em Paissandu , já não podia pensar e ser campeão. (MARIO FILHO, pág. 140 - 141)

Demonstrando o tamanho e a força da torcida do Vasco , inicia-se a “ Campanha dos 10.000 (réis)” , doações em dinheiro , ouro e etc. Em 1926 começa a construção de São Januário, que fica pronto, em tempo recorde , em 1927.

Após 10 meses de obras , exatos 320 dias , a 21 de abril de 1927 era inaugurado o maior estadio de futebol do Brasil , fruto da união dos vascaínos..., em prol de um Vasco mais pungente e altaneiro. São Januário foi palco de eventos políticos históricos , como a assinatura da CLT por Getúlio Vargas; e palco de disputa de várias competições nacionais e internacionais , como o sul-americano de seleções , vencido pelo Brasil em 1949, com a base do time formada por jogadores vascaínos.” -(FRIAS, pág. 50)

A sede de São Januário é o principal patrimônio do C.R. Vasco da Gama. Nele , concentra-se o campo de futebol , o parque aquático , ginásio polivalente , quadras , campos para recreação e treinamento, quadras de tênis, instalações para esportes olímpicos , concentração para moradia de atletas , a parte administrativa do clube ( excessão do remo ) , um restaurante , lanchonete , bares , salão de troféus , a capela de Nossa Senhora das Vitórias , um mini-hospital , sala de computadores e centro de memória” - (MATOS, pág. 81)

Pois bem , São Januário representa além de todo o patrimônio físico , o orgulho da torcida vascaína. O Estádio foi palco de vitórias e conquistas sagradas para o futebol do clube , conquistamos a América jogando em nosso estádio.

Emprestar ou alugar São Januário para qualquer clube rival do futebol carioca é uma afronta a memória de tantos jogadores , como Nelson Conceição , que foram humilhados quando honravam a camisa do Vasco. É uma afronta a memória e o orgulho de todo torcedor vascaíno desse planeta que considera São Januário a extensão da nossa casa.

É portanto , inaceitável que , por qualquer valor , São Januário seja cedido a qualquer clube rival a partir de 2013. Sendo esse um dos erros de 2012, que comece a nossa diretoria acertando em 2013, não alugando/emprestando a nossa casa para ninguém.

São Januário é nosso.

E que faça parte dos objetivos de toda a administração do nosso clube , o respeito pelo nosso patrimônio material e imaterial , respeitando e garantindo a manutenção de todas as nossas conquistas ( o estádio , o parque áquatico, quadras e etc.)

Se você torcedor vascaíno ainda não dá importância ao nosso estádio pense na situação do Quissamã no carioca de 2013.

O Quissamã quase ficou fora do campeonato por não apontar um estádio para mandar os seus jogos. Logo o Quissamã, campeão no campo , legítimo , da série B do campeonato carioca.

Seria o mesmo que excluir o Vasco em 1924 por não ter estádio , mas , por ironia da história , aonde ficam hoje , os estádios de Fluminense e Flamengo , por exemplo?

Como o Vasco não pode jogar, em seu estádio , contra clubes , que sequer , tem estádios próprios ???!!!

Respostas para fundamentar tais decisões temos muitas ( regulamento, infra-estrutura, segurança e etc.) , mas ainda assim como em 1924 o prejudicado somos nós.

Clássicos em São Januário já....

Conheça a história do Vasco.

Fontes:

FRIAS, Sérgio. Eurico Miranda: todos contra ele. Rio de Janeiro: MPM Neto, 2012.544 p.

MARIO FILHO. O negro no futebol brasileiro. 4.ed. Rio de Janeiro: Mauad,2004. 343 p. 

MATOS, Marcelo da Cunha. São Januário: um caldeirão no centro de um bairro. Rio de Janeiro:Clube de Autores,2010.104p.

Feliz 2013!
Saudações Vascaínas.

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